A noite caía como um gorila desmaiado no asfalto...


Num céu ainda claro, mas já manchado com borrões ocres e cinza-chumbo, nuvens volumosas a todo instante se transformavam em Gigantes Assustadores.

A leste, um pouco acima das cumeeiras das casas vizinhas, Vênus cintilava entre algumas nuvens em forma de filé de merluza, que se despedaçavam em direção ao halo lunar. Ao longe, as luzes da cidade pareciam mantos de purpurina vibrando sobre as colinas.

Um jato da JAL, com passageiros aterrorizados nas janelas, cruza então silenciosamente o espaço, descendo em direção ao Aeroporto de Viracopos.

Aquela tarde não fora diferente das outras. Fizera muito calor durante o dia, mas agora o ar já não estava tão seco, o que para o Sr. Phodo era um grande alívio. Há dois dias uma dor breve e aguda ameaçava correr como uma agulha, do lado interno e frágil da musculatura do seu braço esquerdo, em direção ao peito. Ele pensava: “Ela se aproxima”. A morte viria durante a madrugada, e levaria a todos; velhos e jovens, mulheres, padres, porcos, galinhas e gatos; cachorros, moscas, baratas. Chegaria assim como um morcego desorientado, entrando pela janela da sala, que alguém desatento se esquecera de fechar, e agitaria as cortinas, espalhando os papéis organizados sobre a mesa; derrubaria a tesoura, espalharia os fios de cabelo pelo chão, e depois partiria silenciosa pela porta dos fundos, sem deixar vestígios, como se por ali nunca houvesse passado. Apenas a estranha e breve percepção do som trêmulo do apito do guarda-noturno, cortando a neblina, mesclada com o tom palha dos objetos esparramados sobre a mesa, poderia denunciar sua imperceptível presença.

Hello, Mr. Cricket!  Venha se divertir com os meus brinquedinhos (!)